Estamos interessados em saber quanto carbono há, onde está, como se movimenta de uma parte a outra do planeta, quais são suas formas, estamos muito interessados no fenômeno da vida microbial em grandes profundidades e como afeta o ciclo do carbono", declarou Hazen. "É realmente um esforço para entender o carbono em escala global, da superfície ao centro da Terra, não só o ciclo do carbono mais superficial e do qual a maioria das pessoas fala, mas um ciclo mais profundo que representa 90%, ou mais, do carbono em nosso planeta", acrescentou. Hazen explicou que o carbono é "o elemento químico mais importante" no ser humano e no planeta.
"É o elemento da vida, o que deu origem à vida. É um dos aspectos que estamos tentando entender, de onde veio a vida", acrescentou. Algumas das descobertas mais fascinantes que hoje foram reveladas pelo DCO são precisamente as que dizem respeito à relação entre a vida e o carbono. As conclusões dos três primeiros anos do programa e detalhes dos próximos sete anos de atuações estão sendo discutidos em uma conferência internacional que acontece até amanhã na Academia Nacional de Ciências em Washington. Por exemplo, a de que há 4 bilhões de anos os processos biológicos produzidos por micróbios começaram a alterar a mineralogia da Terra, criando minerais que nunca tinham existido no planeta. Ou que os cientistas estão encontrando vírus em grandes profundidades no interior da Terra e que atuam de forma diferente dos vírus da superfície: seu material genético é transferido de forma passiva no genoma de micróbios e pode viver nele durante anos antes de se manifestar.
Segundo um dos pesquisadores, John Baross, da Universidade de Washington, "a profundidade debaixo da superfície pode ter atuado como um laboratório natural da origem da vida no qual múltiplos ´experimentos´ podem ter sido produzidos em dupla". Relacionado com este achado é o chamado processo de "serpentinização", que está originando uma teoria alternativa sobre a origem da vida na Terra. Neste processo, a rocha basáltica que é expelida por vulcões subterrâneos reage quimicamente com a água de mar, o que produz hidrogênio e o mineral "serpentine". Segundo os cientistas do DCO, o hidrogênio gerado por este processo pode ter sido o alimento que permitiu a aparição dos primeiros micróbios na Terra. Mas não na superfície do planeta, e sim em grandes profundidades. De fato, como afirma Haze, "em qualquer lugar do mundo, se você perfura a vários quilômetros, encontrará vida em forma de micróbios". A variedade de vida bacteriana que se encontra em grandes profundidades e com pressões extremas constitui um autêntico "Galápagos das profundezas", segundo o DCO. O mais fascinante é que a vida em grandes profundidades exibe características incríveis.
Steven D´Hondt, da Universidade de Rhode Island, afirmou que esses micróbios "levam pelo menos centenas de milhares de anos para se reproduzir, e é concebível que vivam sem se dividir durante dezenas de milhões de anos". "São zumbis microbiais" acrescentou. Segundo Hazen, "embora seja debatível, há alguns cientistas que asseguram que há micróbios que têm centenas de milhões de anos, que estiveram vivendo em um estado estático, sem se dividir, em pequenos buracos nas rochas, e quando são expostos a um ambiente mais dinâmico, começam a se dividir". "É realmente extraordinário. Porque se a vida pode se manter passiva durante grandes períodos de tempo é mais provável que quando grandes impactos lançam meteoritos de um planeta a outro, é possível que os micróbios possam se transferir de um planeta a outro" disse. "Isso pode ser uma forma de movimentar vida de um planeta a outro", declarou.
Fonte: Abril.ciências
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